As Filhas de Dona Beliska



 

                        La Rubia Mar foi a minha primeira namorada nascida, banhada e benzida em Angra dos Reis. Tinha 15 anos e louros cabelos cacheados quando a encontrei vagando pela Estrada do Contorno em uma fria noite de outono. Estava à procura da mãe, Dona Beliska, que segundo os vizinhos havia sido vista na Praia das Gordas mamando o sexo de dois marinheiros tailandeses.

                        De jaqueta jeans, bermuda xadrez e tênis coloridos, andava apressada, olhando para os lados, desconfiada; era quase um bicho do mato fugindo para as sombras com um pedaço de carne humana entre os dentes. Apressei-me e ofereci uma carona, além de um gole do conhaque que eu trazia no cantil em meu bolso. Não, obrigada, moço, respondeu ela, sem parar de caminhar. Estou com pressa, preciso salvar minha mãe de ser violentada e morta na próxima curva.

                        Não acreditei numa só palavra e insisti dizendo que a noite estava fria e ela ficaria congelada caso não bebesse algo quente naquele momento. La Rubia Mar balançou a cabeça de forma negativa e esmagou meu coração com sua voz suave. Não, obrigada, moço, eu não bebo! Ora, não há nenhum problema, insisti outra vez, sei que não sou a companhia mais recomendável para proteger uma moça perdida dentro da noite, mas o conhaque é leve, ligeiramente adocicado, e uma pequena dose não fará mal nenhum. Pode confiar: não saio pelo mundo oferecendo conhaque a todas as garotas malucas que me aparecem pela frente...

                        La Rubia Mar disse não mais uma vez e acrescentou que jamais aceitava carona ou bebida de estranhos, e que eu deveria me envergonhar por sair pela noite embriagando indefesas moças de família. Em seguida teve um ataque de riso e saiu correndo pela estrada em direção ao Bonfim, deixando-me a leve e ligeira impressão de que era tão doida quanto sua mãe.

                        Voltamos a nos encontrar dois dias depois na porta de uma loja de calçados na Rua do Comércio, no Centro. Desta vez estava sóbrio e me aproximei com cuidado.

                        _ Boa tarde, moça. _ Cumprimentei, no meu melhor tom de voz.

                        _ Ah, o moço da carona... _ Disse ela, fingindo indiferença. _ Vai ficar falando sozinho se me oferecer outra dose de conhaque.

                        _ Não se preocupe, aquela dose de conhaque que você recusou salvou uma puta do frio.

                        _ Desde quando veneno virou antídoto?

                        _ Foi o que aconteceu com a loura de vestido rasgado e lábios borrados de batom que encontrei vagando por Vila Velha.

                        _ Não quero nem saber quem é essa vadia... _ Interrompeu ela, nervosa, possivelmente reconhecendo a tal mulher.

                        La Rubia Mar fez uma pausa e olhou para os lados, pensativa.

                        _ Me desculpe por aquela noite, moço, mas me sentia violentada em cada curva da estrada que passava.                       

                        _ Encontrou quem procurava?

                        _ Não importa, daquela carne nem os porcos merecem...

                                                                             


                                                                                                                                                                      Alberto Aquino

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